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09/13/2024
“O grande desafio é continuar o caminho da qualificação da experiência turística”
No Almoço-Conferência «Desafios e Prioridades para o Turismo Português», o Secretário de Estado do Turismo salientou que o grande desafio do setor é «continuar o caminho da qualificação da experiência turística».
“O grande desafio é continuar o caminho da qualificação da experiência turística”

O Almoço-Conferência “Desafios e prioridades para o turismo português”, organizado pela VI e pela APPII, decorreu esta quinta-feira, 12 de setembro, no Hotel Pestana Palace, em Lisboa. O evento centrou-se na avaliação dos resultados atuais e na projeção futura do setor, destacando a sua relevância para a economia nacional. «Falar de turismo é falar de imobiliário», iniciou Hugo Santos Ferreira, presidente da APPII. «Temos dado boa nota do trabalho que o Governo tem feito. Temos um Governo amigo do investimento. No entanto, temos de passar dos anúncios à prática. Estamos ansiosos para que estes anúncios se implementem», disse Hugo Santos Ferreira.

Com o foco no desenvolvimento e nas ações necessárias para fortalecer o setor, Pedro Machado, Secretário de Estado do Turismo, abordou o momento atual do turismo em Portugal e os desafios que moldarão o seu futuro. Destacando a necessidade de continuar a consolidar a experiência turística em Portugal, Pedro Machado realçou a importância de responder a uma agenda multifacetada.

«O grande desafio para mim é continuarmos o caminho da qualificação da experiência turística. Quando falamos em qualificação, referimo-nos à consolidação do crescimento e a uma agenda que, para alguns, se traduz em sustentabilidade, para outros, em mitigação dos impactos das alterações climáticas», sublinhou.

O Secretário de Estado também refletiu sobre a evolução histórica do setor, sendo que «nos anos 70, o lazer era o tema dominante. Nas décadas de 80 e 90, o turismo passou a ser interpretado como um fator de crescimento e criação de riqueza. Entre 2000 e 2024, assistimos a uma alteração profunda no tráfego internacional», notou, destacando o dinamismo que tem caracterizado o turismo português nas últimas décadas.

Pedro Machado foi firme ao sublinhar a importância de uma abordagem coletiva para o futuro do turismo. «Precisamos de facto trabalhar em conjunto. Isto não é a missão de uma organização; é uma agenda transversal. O turismo é uma das atividades mais transversais que temos no país. O turismo é de facto uma constelação», ressaltou.

Segurança e saúde são “pontos fortes”

Além disso, o Secretário de Estado destacou a confiança que Portugal gera nos mercados internacionais, citando a segurança e a saúde como valores fundamentais. «Portugal tem o valor da segurança, que é incontornável nos mercados internacionais. Somos um país fiável e atrativo e vamos continuar a ser. A perceção de saúde, somada à segurança, traduz-se numa condição essencial para o investimento, ao que precisamos depois de juntar a estabilidade política», afirmou.

Uma questão central na apresentação foi o alojamento local, que Pedro Machado defendeu como fundamental para várias regiões do país. «Não devemos diabolizar o alojamento local. Em muitas regiões, é a única forma de termos capacidade instalada, e foi estruturante na requalificação do património, aumentando também a segurança em áreas anteriormente devolutas», explicou.

Pedro Machado sublinhou ainda a necessidade de lidar com o despovoamento e o envelhecimento, aproveitando o potencial de atração de estrangeiros. «Portugal é um destino atrativo para a captação e fixação de estrangeiros», disse, sublinhando a importância de «reforçar a marca Portugal» em mercados emissores e com grande potencial de crescimento.

Pedro Machado sublinhou ainda a importância de estabilidade no próximo orçamento, «essencial para manter a confiança dos empresários que já operam em Portugal e atrair novos investidores», justificou. Quanto ao Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), acrescentou que «é evidente que o PRR precisa de um verdadeiro acelerador, para que possamos alcançar as metas traçadas».

Evolução do mercado de turismo em Portugal

Eduardo Abreu, Partner da Neoturis, traçou uma análise detalhada sobre a evolução recente do mercado de turismo em Portugal. Entre 2019 e 2023, a procura turística em Portugal cresceu de forma significativa, ultrapassando a oferta de forma consistente. «Estamos a observar uma tendência onde a procura cresce mais rapidamente do que a oferta, o que se reflete em melhores taxas de ocupação e a possibilidade de praticar preços médios mais elevados», referiu. No mesmo período, os proveitos do alojamento subiram 40%.

Apesar disso, Eduardo Abreu lançou uma nota de cautela: «É possível continuar com esta tendência, em que os proveitos crescem cinco vezes mais do que a oferta? Temos de questionar até que ponto é que esta tendência é sustentada».

Descentralização da procura e variedade de mercados

Eduardo Abreu também destacou a diversificação regional que se tem verificado no turismo português. O Norte, Açores e Alentejo cresceram a taxas superiores a 10% em termos de oferta entre 2019 e 2023. Outro ponto importante foi a desconcentração geográfica da procura. «Há 25 anos, o Algarve, Lisboa e a Madeira concentravam 81% das dormidas no país. Hoje, esse valor desceu para 59%, enquanto o Norte, Centro e Alentejo quase duplicaram a sua quota de mercado. Isto mostra que o crescimento tem sido bem distribuído pelo território», salientou Eduardo Abreu.

A variedade de mercados emissores também tem sido um fator determinante, com especial destaque para os Estados Unidos e o Brasil, dois mercados em crescimento. «Entre 2019 e 2023, Portugal só foi ultrapassado pela Turquia em termos de recuperação do número de chegadas pós-pandemia», acrescentou.

Apesar dos avanços, Eduardo Abreu destacou vários desafios que o setor do turismo enfrentará nos próximos anos. «É crucial manter Portugal na rota dos investidores e explorar novas áreas de negócio para os hotéis portugueses, além de alavancar os fundos do Portugal 2030», afirmou. A captação de novos turistas e residentes, bem como a entrada em novos mercados emissores, como a Índia e a China, foram apontados como oportunidades a ter em conta.

"Uma indústria que tem mantido uma trajetória ascendente ao longo de sete décadas"

«Nos últimos 73 anos, o turismo cresceu continuamente. É uma indústria que tem mantido uma trajetória ascendente ao longo de sete décadas», lembrou Eduardo Abreu, frisando que este crescimento deve continuar a ser sustentado de forma estratégica.