Almoço-conferência
03/02/2023
Crescimento da economia acima de 1% deverá manter dinamismo do imobiliário
O Almoço-conferência da Vida Imobiliária, em conjunto com a APPII, centrou-se em questões como o sentimento económico em Portugal e na Europa para 2023, o impacto da inflação e as subidas de juros.
Crescimento da economia acima de 1% deverá manter dinamismo do imobiliário

O Almoço-conferência da Vida Imobiliária decorreu esta quarta-feira, em conjunto com a APPII. Com o mote “Perspetivas económicas e impacto no imobiliário”, os especialistas foram convidados a debater assuntos ligados à inflação, que fechou 2022 em máximos de 30 anos, as taxas de juro, a regressar a terreno positivo, e o impacto destes indicadores no mercado imobiliário.

João Duque, presidente e professor catedrático do ISEG, e o gestor António Ramalho, foram os especialistas convidados a perspetivar e examinar a evolução da economia portuguesa este ano e os seus efeitos sobre o imobiliário. Esteve presente também no Almoço-conferência, Eloy Bohúa, Diretor Geral Planner Exhibitions do Salão Imobiliário de Madrid (SIMA). O responsável enfatizou o facto de a participação de Portugal «ser cada vez mais intensa, nesta feira imobiliária que é toda um ecossistema».

ELOY BOHÚA, DIRETOR GERAL PLANNER EXHIBITIONS DO SALÃO IMOBILIÁRIO DE MADRID (SIMA)

“Hoje é expectável termos um crescimento acima de 1%”

Questionado sobre a expectativa que tem para este ano, João Duque confessa que à medida que os indicadores vão avançando, e o tempo vai passando, está mais otimista – «acho que hoje é expectável termos um crescimento acima do 1% com muita facilidade, sempre muito puxado à custa do setor do turismo».

O presidente do Instituto Superior de Economia e Gestão da Universidade de Lisboa, conta que «nós [colegas do ISEG] em vez de um número, damos um intervalo: o crescimento para a economia portuguesa situava-se entre o 1%, ponto médio 1,6 e, o crescimento maior no intervalo, em 2,1%». Para o especialista, mesmo em ambiente de guerra, com «as nuvens e o pessimismo», Portugal «continua a ser um país atrativo».

“Começo a ter a sensação de que nós, de facto, estamos a ter um crescimento”

João Duque aponta para as «indicações robustas sobre o crescimento da economia portuguesa sensível», que grande parte dos indicadores têm apresentado. Para o especialista, a economia pode estar «potencialmente a começar a recuperar, face aquilo que foi o último trimestre de 2022», adiantando que começa a ter a «sensação de que nós, de facto, estamos a ter um crescimento».

A maior parte dos indicadores estão a dar indicações robustas sobre o crescimento da economia portuguesa sensível, para aquilo que são as nossas médias, e até potencialmente a começar a recuperar face aquilo que foi o último trimestre de 2022. Começo a ter a sensação de que nós, de facto, estamos a ter um crescimento.

Conjuntura está “propícia para a Europa

Em termos internacionais, o presidente do ISEG considera que a conjuntura está «aparentemente a ser muito propícia para a Europa, melhor do que aquilo que se estava a prever». João Duque aponta assim para três vetores muito importantes, que contribuem para tal conjuntura: a nova política chinesa de ataque à covid; o plano americano de investimento forte nas energias renováveis; a Europa «conseguiu sobreviver, de certa maneira, à questão do inverno e da energia», enuncia.

Posto isto, uma vez que a conjuntura está «aparentemente a ser muito propícia para a Europa», conjuga-se assim uma situação que «dá um certo estímulo para acreditar que a economia europeia pode, de certa forma, desacelerar (e as taxas de juro vão provocar esse desaceleramento), mas não entrando em recessão», alude João Duque.

ANTÓNIO RAMALHO, GESTOR (À ESQUERDA), E JOÃO DUQUE, PRESIDENTE E PROFESSOR CATEDRÁTICO DO ISEG (À DIREITA)

“Temos um leque de investimento brutal nos últimos anos, em quase todas as áreas”

De acordo com as palavras do gestor António Ramalho, «todas as previsões que se foram fazendo progressivamente em relação às diversas crises, que de alguma maneira foram surgindo surpreendentemente no sistema, vieram a verificar-se menos negativas do que aquilo que foi a primeira expectativa das pessoas».

O gestor denota que «nós nos estamos a esquecer do contrário, isto é, parecemos bastante otimistas em relação a diversas circunstâncias (por exemplo, com o turismo), mas estamos a esconder por parte de uma realidade que é nós termos um leque de investimento brutal nos últimos anos, em quase todas as áreas».

No que toca à inflação, o António Ramalho alerta para o facto de «dizer que a inflação é o resultado de uma política monetária muito agressiva é esquecer que esta inflação nasceu pela oferta e não pela procura. Não houve nenhuma inflação que nascesse duramente de necessidades de procura e de consumos elevados».

O economista explica assim que «a inflação nasceu de aumentos de preços de oferta, nomeadamente preços de energia, que repentinamente reviraram os valores para valores completamente distintos», adiantando que é «um otimista sobre a inflação», pois esta «esconde uma realidade que é um ajustamento de preços por baixo daquilo que é uma inflação de facto proveniente da procura».

Inflação poderá “trazer surpresas”

Na opinião de António Ramalho, a inflação «vai trazer surpresas positivas, pois vai ser a inflação que é determinada pela procura que vai ser reduzida». Todavia, o gestor alerta que «não esperem o mesmo das taxas de juro, pois vão ficar estáveis e a este nível». O economista adianta que podem «subir um pouco mais», mas está convencido de que «estamos a chegar a um patamar adequado de taxas de juro».

António Ramalho considera que «podemos ter uma redução da inflação rápida, por uma restrição significativa do lado do consumo» Por outro lado, «pela primeira vez, vamos ter a hipótese de ter taxas de juro positivas, assim como elas devem ser sempre».

Admite ainda que podemos «chegar a uma taxa de inflação, até ao final do ano, já muito próxima dos 2%. Mas vamos, nessa altura, estabilizar as taxas de juro acima dos 3%. As taxas de juro nunca mais vão descer outra vez para taxas de juro negativas, pois ninguém vai arriscar políticas monetárias como aquelas que tivemos no passado».

Já João Duque acredita que chegamos ao final do ano com uma inflação média à volta dos 5%, «apesar de não estar a descer tão depressa quanto eu estava a pensar». O presidente do ISEG reitera que «se ficarmos com uma média de 5%, é preciso que no final do ano estejamos a 3%».

“Vamos ter um imobiliário completamente estável”

Para o economista António Ramalho, «no próximo ano, vamos ter um imobiliário completamente estável, ou até com uma ligeira descida, enquanto vamos ter a recuperação completa dos outros ativos». Há razão para ajuste de valores do mercado imobiliário? O gestor considera que «tecnicamente, há razão para haver uma descida de preços, até por uma realocação dos ativos. Do ponto de vista do conceito puro, é possível».