A Associação Portuguesa de Promotores e Investidores Imobiliários (APPII) retomou esta quinta-feira, 30 de outubro, os seus Almoços-Debate, promovendo um espaço de reflexão sobre os grandes temas que influenciam o setor imobiliário e a economia portuguesa. O orador convidado foi Pedro Reis, vice-chairman do Conselho Estratégico da Cimpor, administrador executivo da Fundação António Pargana e ex-ministro da Economia, que deixou um diagnóstico lúcido e uma nota de que “2026 poderá ser um ano verdadeiramente definidor”.
“O espaço de manobra é apertado e o mundo está mais incerto, mas acredito que as coisas podem funcionar se houver clareza e determinação”, afirmou Pedro Reis. Num discurso centrado no contexto geoestratégico mundial, o antigo governante defendeu que a Europa precisa de maior autonomia estratégica. “A Europa não pode continuar titubeante e fragilizada, dependente das decisões de terceiros. Precisa de uma posição própria, firme e estratégica”, referiu.
“A Europa precisa de ser menos política e mais orientada para as empresas e o investimento”
Segundo o ex-ministro da Economia durante o primeiro executivo liderado por Luís Montenegro, vivemos “uma dicotomia entre afastamento e confiança, entre protecionismo e liberalismo”, e é neste cenário que o continente europeu deve “ser menos político e mais económico, mais virado para as empresas e o investimento - só assim promoverá desenvolvimento sustentado”.
O orador acredita que o apoio massivo ao investimento vai efetivamente acontecer, tanto a nível nacional como no âmbito da nova arquitetura económica global que está a ser desenhada. “Provavelmente vamos assistir à mutualização do investimento, e Portugal tem de garantir capacidade de execução”, afirmou.
Portugal é “porto de abrigo” e “plataforma estratégica”
Na sua perspetiva, Portugal é hoje visto de duas formas: como “porto de abrigo” e como “plataforma estratégica”. Se o contexto global se agravar, “seremos porto de abrigo, mas, enquanto plataforma estratégica, precisamos de criar condições para atrair fundos soberanos e investidores para o país”. Para o consultor estratégico da cimenteira Cimpor, “se estivéssemos apenas dependentes de ciclos internacionais ou de orçamentos europeus, seria compreensível. Mas quando o que está em causa é vontade política e uma agenda focada na criação de riqueza, torna-se mais difícil de aceitar continuar a esperar por mais décadas”.
Ao longo da intervenção, o antigo ministro apontou o crescimento económico como prioridade absoluta. “Talvez seja tempo de inverter prioridades e assumir que o alfa e o ómega de um país deve ser o crescimento económico através das empresas: baixar impostos, simplificar o licenciamento, atrair investimento, apostar na diplomacia económica, desenhar PPPs e criar benefícios fiscais”. Sublinhou também que vê “com bons olhos o trabalho que está a ser feito nas infraestruturas estratégicas”, e mostrou-se confiante de que “os fundos europeus serão mesmo executados”.
“PPP permitem acelerar o crescimento, alinhar gerações, repartir riscos e garantir rentabilidade”
Convicto defensor do modelo das concessões das parcerias público-privadas (PPP), Pedro Reis considera que estas “são instrumentos que permitem acelerar o crescimento, alinhar gerações, repartir riscos e garantir rentabilidade”. Apontou igualmente o interesse crescente de fundos internacionais na consolidação e internacionalização das PME portuguesas, sublinhando que “quanto mais abertos formos, mais crescemos”.
“Portugal tem de se libertar do medo de decidir”
Apesar dos sinais positivos, o gestor alertou para os bloqueios estruturais que travam o investimento. “Acho importante que as pessoas se libertem de vez da nebulosa do labirinto das aprovações. Em Portugal, ganhou-se medo de decidir - e esta é talvez uma das reformas culturais mais profundas que o país precisa de fazer”. Pedro Reis reforçou ainda a necessidade de passar das intenções à execução, sobretudo no que toca ao “tema do licenciamento que, sinceramente, está todo feito - falta é executá-lo”, afirmou.
Prioridades que podem mudar a economia do país
O antigo governante elencou as que considera ser as prioridades capazes de mudar a economia portuguesa: “a redução da carga fiscal, o licenciamento, a energia, a industrialização verde, a diplomacia económica e as parcerias público-privadas”. Defendeu, por fim, uma mudança de perspetiva sobre o papel das empresas e do investimento, enfatizando que “temos de mudar a lente e dar verdadeira importância às empresas e aos investidores. Se olhássemos para tudo o que é feito - e para o que não é feito - com as lentes do investidor, as decisões certas seriam muito mais evidentes”.
O almoço-debate, que marcou o regresso da APPII a este formato tradicional de diálogo, inseriu-se nas comemorações dos 35 anos da APPII, reunindo associados e convidados num momento de reflexão sobre o futuro do setor e da economia.
“Na comemoração dos 35 anos, achámos que devíamos olhar para o futuro, dinamizando o presente e trazendo também o passado para cima da mesa”, referiu Hugo Santos Ferreira, presidente da APPII. “Queremos manter o dinamismo e a atividade, continuar a ser uma associação com voz, respeitada e ouvida no processo legislativo e regulamentar em Portugal”. Sublinhou ainda que a associação “vive porque representa 15% do PIB”, reforçando que “o verdadeiro poder da APPII está nos empresários que criam e mantêm postos de trabalho”.
Já o CEO da APPII, Manuel Maria Gonçalves, enfatizou que este regresso “simboliza mais do que um evento: é um sinal de vitalidade e ambição renovada” e que “a força da APPII está nas pessoas que a compõem, nas ideias que partilhamos e no trabalho conjunto que fazemos todos os dias pelo setor e pelo país. Queremos que este novo ciclo seja feito de proximidade e diálogo”.