O custo da habitação, os rendimentos das famílias, a ausência de um mercado ativo de arrendamento e de uma promoção imobiliária suficientemente forte, fazem da habitação «um enorme problema» e «é preciso tempo para resolver este problema», sublinhou o professor Vasco Peixoto de Freitas, na sessão de abertura da 7.ª conferência PATORREB, esta terça-feira, na Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto. Na sua opinião «a habitação constitui um dos desafios da próxima década» e a «sociedade portuguesa tem de procurar delinear uma estratégia, a médio prazo, em que o contributo da engenharia e da arquitetura é absolutamente fundamental, bem como a imprescindível definição de Políticas Públicas, num quadro de estabilidade».
Organizada conjuntamente pela Faculdade de Engenharia (FEUP) e pela Faculdade de Arquitetura (FAUP) da Universidade do Porto, a primeira sessão da conferência PATORREB2023 sobre Patologia e Reabilitação de Edifícios foi dedicada à habitação e contou com a participação de um amplo painel de palestrantes, entre os quais, a arquiteta Helena Roseta.
A acompanhar as políticas públicas há mais de 50 anos, em diferentes cargos de responsabilidade, Helena Roseta falou do direito à habitação, «um direito de todas as pessoas» e que «não é algo que o mercado sozinho consiga resolver, porque é um direito fundamental que impõe responsabilidades ao Estado e às autarquias» e que «falta cumprir».
E se faltam casas para cumprir o direito à habitação, Helena Roseta assinala que também há muitas casas sem famílias. De acordo com os números apresentados pela antiga deputada, em 1970 existiam 2,7 milhões de casas para 2,3 milhões de famílias; e, em 2021, 5,9 milhões de casas para 4,1 milhões de famílias. Em 1970 existiam 81 mil residências secundárias, em 2021 existiam 1,1 milhões. Outro dado, referente ao número de casas vagas, revela que em 1970 existiam 378 mil casas vagas e em 2021 o número aumentou para 716 mil.
“Temos mais casas do que famílias, não temos é casas nos sítios e aos preços que as famílias possam pagar”, Helena Roseta, arquiteta.
Mas as mudanças, nos últimos 50 anos, estenderam-se também ao mercado de arrendamento, «alterou-se a repartição entre proprietários e inquilinos, com cada vez mais gente a adquirir habitação com empréstimo bancário» referiu, dando nota de que se em 1970 «as famílias proprietárias ou coproprietárias rondavam os 48%, em 2021 este número aumentou para 70%».
Alterações que foram impactadas por uma nova escala do mercado imobiliário nacional. «Estávamos habituados a um mercado em que a procura e a oferta eram nacionais e hoje temos um mercado em que a oferta é nacional, mas a procura é global e é global com um poder de compra muito superior ao poder de compra nacional. E é isto que faz, no meu ponto de vista, o grande desequilíbrio entre a oferta e a procura, e não é tanto a falta de oferta».
Presente na ocasião Ricardo Guimarães, Diretor da Confidencial Imobiliário, reconheceu «um mercado que mudou de escala e que sofreu alguns choques». De acordo com os dados apurados pela Confidencial Imobiliário, metade das casas de construção nova que iniciaram o processo de venda este ano foram vendidas ainda em planta. Ou seja, «não se chega a constituir stock, o que é trazido para o mercado pela construção é absorvido». Outro fator importante, diz respeito ao aumento significativo de estrangeiros a chegar a Portugal, o que representa «uma súbita e relevante procura de habitação».
Para Ricardo Guimarães, não obstante as dificuldades que a sociedade enfrenta como um todo, o seu alerta dirigiu-se aos jovens: «o grande problema da habitação está para quem está fora do mercado, em particular para os jovens. Estão a chegar ao mercado sem património, com juros mais altos, casas mais caras, além de mais impostos».
2.ª sessão das conferências PATORREB2023 decorre a 7 de novembro
Depois da primeira sessão, na FEUP, a segunda sessão da conferência PATORREB2023 decorrerá na FAUP, no dia 7 de novembro, subordinada aos temas do património. Acompanhe todas as novidades no site oficial do evento.
Fonte: VI