Fórum do Imobiliário
05/05/2022
Inflação e aumento das taxas de juro geram preocupação entre os especialistas
A 1ª EDIÇÃO DO FÓRUM DO IMOBILIÁRIO TEVE COMO TEMA CENTRAL “A EVOLUÇÃO DO MERCADO DO LUXO NAS LOJAS DE RETALHO”, E CONTOU COM A PRESENÇA DE JOÃO DUQUE, PROFESSOR CATEDRÁTICO DO ISEG, QUE ANALISOU O ATUAL CONTEXTO MACROECONÓMICO E PRINCIPAIS INDICADORES.
Inflação e aumento das taxas de juro geram preocupação entre os especialistas

O I Fórum do Imobiliário, uma iniciativa organizada pela APPII - Associação Portuguesa de Promotores e Investidores Imobiliários - e a APCC - Associação Portuguesa dos Centros Comerciais, estreou-se esta quarta-feira, dia 4 de Maio, no espaço GALLERIA do NorteShopping no Porto. Este novo espaço (GALLERIA) representa um investimento de 8 milhões de euros, com um posicionamento premium e uma oferta distintiva, assinalando a conclusão do projeto de expansão do NorteShopping, iniciado em 2017 e que envolveu um investimento global de 77 milhões de euros.

Na sua apresentação, João Duque começou por dar destaque à mais recente decisão do Supremo Tribunal sobre a matéria do Alojamento Local, a qual na opinião do professor acarreta riscos para os atuais operadores destas unidades e irá provocar alterações no parque residencial. Neste seguimento, o professor destaca que surge em simultâneo uma oportunidade para investidores institucionais, com maior capacidade para gerir grandes células e realizar investimentos mais avultados.

Na área da Fiscalidade, o Orçamento de Estado (OE) também foi objeto de análise por parte de João Duque, que acredita existirem poucas alterações relevantes que possam contribuir para a dinâmica do imobiliário. Segundo João Duque, «necessitamos de medidas mais radicais como por exemplo acabar com o imposto sobre as transações imobiliárias», pois tal como recorda o professor existem outros setores com sistemas mais simplificados – a título ilustrativo basta considerar o caso de automóveis de luxo em 2ª mão cujo custo da transação se limita ao custo do registo.

No que concerne à Demografia de Portugal, as projeções apontam para uma diminuição crescente da população ativa, acompanhada por um aumento significativo da população com mais de 65 anos. Este fenómeno dá origem a mudanças na procura no setor do imobiliário, já que a população ativa se aproxima da classificação de “recurso escasso”, aumenta a população com necessidades de cuidados intensivos, e as novas gerações tendem a herdar património, o que conflui na transição do investimento direcionado para novas compras, em investimento focado no rejuvenescimento dos imóveis.

Ainda na esfera demográfica, destaca-se a evolução do número de divórcios realizados, que em 2020 praticamente igualou o de casamentos (cerca de 20.000). Ora esta realidade repercute-se no mercado de arrendamento, uma vez que é comum no caso dos divórcios a mudança de habitação por parte de um (ou dos dois) membros do casal.

Por fim, o professor João Duque salientou que «o modelo económico português está a ficar demasiado conservador, o que é preocupante face a um cenário de aumento de custo de vida». Além da inflação, destaca-se o disparo invulgar das taxas de juro (invulgar sobretudo pela rapidez com que se deu), subida que se tenderá a acentuar à medida que o Banco Central Europeu (BCE) for anunciando o fim da compra de dívida dos Estados. Neste âmbito, João Duque relembra que atualmente 50% da dívida pública portuguesa se encontra distribuída entre os balanços do Banco de Portugal e do BCE.

Como nota final, o Professor Catedrático do ISEG considera que o atual conflito geopolítico pode apresentar oportunidades para Portugal, na medida em que muitas das indústrias que estavam presentes na Rússia estão agora num processo de relocalização, e existem no nosso país parques industriais com grande potencial de desenvolvimento e valorização, ainda que seja necessário um maior investimento nas infraestruturas ferroviárias e portuárias para dar suporte a esta atividade.