COPIP
05/07/2022
Portugal não deve desperdiçar “procura sólida” para investimento imobiliário
Portugal continua a ser um «excelente refúgio para o investimento», mesmo em contexto de grande instabilidade global. A procura mantém-se forte, os bancos continuam abertos ao financiamento, e há que agilizar os licenciamentos para manter este dinamismo.
Portugal não deve desperdiçar “procura sólida” para investimento imobiliário

Portugal continua no mapa do investimento imobiliário, registando uma forte procura que não deve ser desperdiçada. Todas as características desta atratividade se mantêm, mas há que ultrapassar algumas dificuldades burocráticas para manter a procura, como os tempos de licenciamento.

Esta foi uma das conclusões do painel “Why Portugal – O investimento e a atração de capital”, que abriu os trabalhos da parte da tarde da Conferência da Promoção Imobiliária em Portugal – COPIP, que decorreu a 30 de junho.

Na sua apresentação introdutória, Gonçalo Ponces, Head of Development da JLL, destacou que «a procura existe, é cada vez mais sólida, e não a devemos desperdiçar», e que «Portugal é hoje um destino global consolidado. Somos reconhecidos e destino de exceção em várias categorias, nomeadamente para expatriados», salientando fatores diferenciadores como a segurança, o clima, qualidade de vida, custo e qualificação dos recursos humanos.

Recorda que «há cerca de 10 anos foram implementadas várias medidas legislativas importantes» para esta atração de investimento, nomeadamente as alterações ao regime do arrendamento urbano, a criação dos incentivos dos “golden visa” ou do Regime de Residentes Não Habituais, ou ainda a criação de outros benefícios fiscais para a reabilitação urbana. «A dinâmica do investimento é cada vez mais sustentada, e deverá rondar os 2.500 a 2.700 milhões de euros em imobiliário comercial em 2022», prevê.

Atualmente, existe «uma enorme oportunidade» de investimento em vários setores, como o residencial, o logístico, escritórios ou hotelaria, que registam mais procura que oferta, dando mesmo o exemplo do processo de venda da sede do Novo Banco em Lisboa, que atraiu 3.000 milhões de euros em capital interessado e recebeu 30 propostas de NBO’s na primeira fase de comercialização.

Sobre a atratividade de Lisboa, Raquel Abecassis, da InvestLisboa, destacou na sua intervenção que «a cidade continua a ser atrativa», e que aumenta o peso de alguns investidores, como os americanos. Segundo a responsável, muitos investidores que apostaram na capital nos últimos anos, «já não encontram oportunidades, ou já investiram o que tinham para investir, mas há outros interessados, o que nos leva a concluir que Lisboa deveria procurar mais mercados».

Considera mesmo que alguns efeitos colaterais da pandemia ou da guerra na Ucrânia «são uma oportunidade para Portugal. A cidade devia aproveitar para captar o máximo de investimento possível. Este Este é o momento para realinhar estratégias e defini-las para a cidade. Se o fizermos, Lisboa terá grande oportunidade para atrair outro tipo de investidores, com maior capacidade para se instalarem e ficarem em Portugal».

Licenciamento ágil para manter um “refúgio de investimento”

Na mesa-redonda de debate sobre este tema, moderada por Ricardo Sousa, CEO da Century 21 Portugal, ficou claro que o tema do licenciamento é um dos que mais preocupa os investidores. Miguel Cabrita, Board Member da Mexto Property Investment, destacou que os investidores que procuram o nosso país procuram «acima de tudo rentabilidade», e que as decisões administrativas são o principal problema que encontram. «Pedimos aos vereadores que nos ajudem neste tema». Seja como for, «atrai-lhes o país fantástico que temos, que ainda tem espaço» para o investimento.

Joaquim Lico, CEO da Vogue Homes, acredita que «os fatores que colocaram Portugal no mapa ajudaram a que conseguíssemos ultrapassar» os constrangimentos da pandemia. Agora, considera que «podemos aproveitar alguma conjuntura de deslocalização provocada pela guerra». Mas apela ao Governo «que não atrapalhe quem trabalha e produz riqueza».

José Araújo, diretor da Direção de Crédito Especializado e Imobiliário do Millennium bcp, não tem dúvidas de que «ainda há oportunidades» no mercado, e que «mesmo que a liquidez diminua, Portugal continua a ser um excelente refúgio para o investimento, num panorama em que nunca se sabe o que vai suceder. Estamos no centro do Mundo, e os países do Sul da Europa têm oportunidades muito mais seguras». E nota que os cerca de 3.000 processos que a Câmara de Lisboa tinha pendentes no início do corrente executivo «não foram decisivos para diminuir o investimento imobiliário». Mas «é necessário planeamento que não seja só a curto prazo».

Miguel Santana, Board Member da Fidelidade Property, destacou nesta ocasião a necessidade de «estabilidade legislativa e fiscal», sem deixar de lembrar que «o tema dos licenciamentos existe em todos os países que temos presentes». É importante «melhorar a transparência dos processos e a comunicação».

Já Fernando Vasco Costa, Diretor Geral em Portugal da Nexity, garante que os investidores de grande escala têm «enorme vontade» de vir para Portugal, mas «o planeamento é muito importante para criar segurança». Identifica que «hoje as rendas são mais altas que a prestação ao banco, e há muito mercado que não está a ser servido, há aqui uma enorme oportunidade de atração de investimento. Somos um mercado pequeno que é cada vez maior, e precisamos também de habitação para continuar a atrair o talento que tem interesse em Portugal».

Banca está “interessadíssima” em continuar a financiar

José Araújo salienta desafios como o equilíbrio da intervenção do Banco Central Europeu para controlar a inflação e o aumento dos juros e dos custos do financiamento. «Sabemos que vai haver inflação, mas ela tem de ser baixa». E prevê que «o aumento dos spreads pode fazer com que alguns particulares se mostrem receosos em avançar. Por outro lado, alguns podem avançar já na esperança de aproveitar preços agora mais baixos».

Seja como for, o responsável garante que «a banca está interessadíssima em continuar ao lado dos promotores imobiliários, vivemos da intermediação». Mas avisa que os promotores «começam a pensar em novos problemas, e devem preparar-se para os custos dos materiais, para a falta de mão-de-obra. Terão de fazer novos contratos em planta que prevejam isso e garantam uma certa estabilidade, e os contratos com os empreiteiros têm de ser muito claros».

Por outro lado, «o capital próprio terá de ser superior também, será uma nova forma de avançar e ter segurança».

Luís Vaz Pereira, Diretor de Financiamento à Promoção Imobiliária e também parte da Direção de Crédito Especializado e Imobiliário do Millennium bcp, não deixou de salientar o «papel de suporte à atividade imobiliária» da banca, e que, apesar da ameaça da inflação, «estamos habituados a gerir cenários de incerteza, e estamos dispostos a ajudar a gerir estes cenários. A banca está preparada», recordando ainda que no passado «já tivemos inflação durante muitos anos».