Habitação
10/02/2022
C21: Falta de obra nova é oportunidade para o setor em 2022
A Century 21 prevê «um ano fantástico» num «excelente momento de mercado», não sem alguns desafios que importa ter em conta, como a falta de oferta de habitação para o segmento médio, ou os longos períodos de licenciamento, além do contexto económico. Os
C21: Falta de obra nova é oportunidade para o setor em 2022

O setor imobiliário arranca o ano com melhores perspetivas que em 2021, depois de um ano em que foram vendidas quase 200.000 casas no país. Apesar do otimismo, permanecem alguns desafios que há que ter em conta, como a falta de oferta.

Este foi um dos temas discutidos durante o primeiro dia da Convenção Ibérica da Century 21 “One 21 Experience”, a 3 e 4 de fevereiro na Altice Arena. Ricardo Sousa, CEO da Century 21 Portugal, arrancou o debate lembrando que «a escassez de oferta vai continuar a marcar o ano de 2022, e os preços poderão estabilizar ou mesmo corrigir», apesar de a procura continuar a ser «impulsionada pelas poupanças dos portugueses» e pelo facto de os bancos continuarem abertos à concessão de crédito.

Existem este ano «duas “mega tendências”», nomeadamente a «urgência ambiental», numa altura em que «os edifícios e o processo de construção são dos principais responsáveis pelas emissões de CO2», e o envelhecimento da população. «Isto tem impacto direto no dia-a-dia do negócio», segundo Ricardo Sousa.

Deixou alguns alertas que podem condicionar a atividade do setor, entre os quais a inflação, ou a subida nas taxas de juro e os novos prazos reduzidos de concessão de crédito à habitação, «que vai impactar a capacidade de aquisição de habitação».

Sobretudo, «a falta de obra nova», já que se produz «cerca de ¼ das necessidades dos habitantes na Península Ibérica. A escassez de materiais, os preços das matérias-primas e da mão-de-obra, a somar aos licenciamentos, vai fazer com que o ritmo de entrada de novo produto no mercado seja muito mais lenta do que o desejável».

“Há procura mas não há oferta. É aqui que temos de trabalhar”

Em 2021, o imobiliário voltou a representar 15% do PIB nacional, nas contas de Hugo Santos Ferreira, Presidente da APPII, uma subida de 18% face ao ano anterior. «Esta é a importância que o setor tem em Portugal».

Segundo o responsável, na Área Metropolitana de Lisboa venderam-se no ano passado cerca de 70.000 casas, mas «a construção nova desceu. Há procura, mas não há oferta, e é aqui que temos de trabalhar. Isto é uma oportunidade para o nosso país».

Citando números do Portuguese Property Investment Survey, destaca que 80% dos projetos em pipeline já são de construção nova, por oposição aos 20% de reabilitação. «A procura de terrenos desceu devido à pandemia, mas já está a subir e a ganhar muita importância», atesta.

Por outro lado, segundo o mesmo inquérito, os promotores imobiliários focam-se agora mais em projetos para clientes portugueses e no segmento médio. «Isto é muito bom ao nível da sustentabilidade do mercado», considera.

Seja como for, deixa o alerta para os problemas do aumento dos preços da construção e da mão-de-obra, para a fraca disponibilidade de terrenos e para os longos períodos de licenciamento, tudo questões que atrasam a colocação de nova oferta.

Também em Espanha «as perspetivas são muito positivas», esperando-se a construção de até 120.000 novas habitações. Juan Antonio Gómez-Pintado, Presidente da ASPRIMA, prevê mesmo uma subida dos preços entre os 3% e os 4%. Entre os principais desafios, aponta a «dificuldade na disponibilização de terrenos para construção» e o facto de cada província ter as suas regras específicas. Assim como em Portugal, «precisamos que os processos de licenciamento demorem menos para que possamos colocar os projetos em marcha», salienta.

Por outro lado, destaca a importância de acelerar o processo de industrialização da construção, já que «dentro de 5 anos, 12% a 15% dos trabalhadores do setor estarão reformados, e isso vai sentir-se muito num problema de mão-de-obra. Temos de ser atrativos para os jovens, e precisamos de uma mudança de mentalidade».

Dignificar e profissionalizar a mediação

Os mediadores imobiliários podem e devem ser parceiros dos promotores na resposta às necessidades de habitação, concluíram os participantes no debate.

Há que seguir a profissionalização deste setor. Juan Antonio Gómez-Pintado destaca que «a mediação é um setor cada vez mais profissionalizado e as nossas empresas dependem muito dela. Estas sinergias são muito importantes para ambas as partes». Para Hugo Santos Ferreira, «é importante que toda a cadeia de valor se profissionalize e acompanhe esta tendência» de profissionalização.

O responsável da APPII nota mesmo que «a mediação tem de ajudar os promotores a contornar os obstáculos. Por exemplo, ajudem os promotores a encontrar terrenos para construir».

Gerard Duelo, Presidente do Consejo General COAPI de Espanha, aponta a falta de profissionalização do setor da promoção imobiliária em Espanha, e considera que «o consumidor continua desamparado. Queremos que, além de outros setores, também os agentes imobiliários sejam regulados. Falamos de dignificar a profissão e defender o consumidor. Se não houver uma lei nacional, continuaremos a ter um “caos”».

Ricardo Sousa conclui que «em Portugal temos a vantagem de ter uma regulação da mediação imobiliária mais estruturada que em Espanha, e estamos a trabalhar na profissionalização do setor. O conhecimento é um grande ativo, temos de apresentar-nos como quem vai ajudar os promotores, a investigar a melhor solução, a encontrar o terreno. Temos de nos valorizar mais junto do promotor imobiliário».

Fonte: Vida Imobiliária